Método Fácil de Parar de Fumar. Isso existe? Pelo menos desta forma, com iniciais em maiúsculas, sim. É com este nome que a franquia brasileira da rede internacional seminários Easyway está operando em São Paulo desde março deste ano com uma promessa um tanto polêmica: o fim do vício em cigarro com apenas seis horas de prosa — uma poderosa prosa, ao que tudo indica –, que pode vir na forma de palestras em grupo ou em papos individuais. A empresa garante que isso é o suficiente para fazer um fumante largar o cigarro de uma hora para outra sem subir pelas paredes em crises de abstinência.
O “milagre” é (é?) operado mediante pagamento de R$ 500 por franqueados mundo afora que repetem ad infinitum o método criado pelo inglês Allen Carr, que passou 30 anos lutando contra o vício em cigarro, até que um dia conseguiu parar, sem sofrimento, porque, segundo ele, conseguiu desvendar os mecanismos da dependência física e psicológica, assumindo controle sobre o vício.
Infelizmente a sacada não veio a tempo: Carr morreu de câncer de pulmão em 2003. Ele, que fumava entre 60 e cem cigarros por dia, dizia que seu sangue era até amarronzado por causa da falta de oxigenação. Seu livro, Easyway To Stop Smoking, já vendeu mais de sete milhões de exemplares em todo o mundo.
Os médicos são quase unânimes: parar de fumar é tudo, menos fácil. O Instituto Nacional do Câncer, por exemplo, tem uma cartilha para quem quer parar de fumar intitulada justamente “Mas será tão fácil assim?”, questionamento que remete à percepção equivocada de quem não fuma de que parar de fumar pode parecer algo simples, de que “basta querer”.
Para ajudar a largar o cigarro, a cartilha do Inca recomenda desde chupar gelo a não ficar parado, conversar com um amigo ou fazer algo diferente que distraia a atenção, passando por escovar os dentes a toda hora, beber água gelada ou comer uma fruta. Manter as mãos ocupadas com um elástico, pedaço de papel, rabiscar alguma coisa ou manusear objetos pequenos. Ufa!
O Inca recomenda também:
“Guarde o dinheiro que você gastaria com o cigarro e conte-o ao final da semana. Pegue o dinheiro que economizou e compre um presente para você ou para quem gosta; Se preferir, saia para para fazer um programa diferente”.
Tudo isso dá conta da complexidade, ou seja, da infinitude de nuances, situações e obstáculos que um postulante à condição de ex-fumante terá que se deparar.
Falando à Folha de S.Paulo, a cardiologista Jaqueline Issa, responsável pelo programa de tabagismo do Incor (Instituto do Coração do HC de São Paulo), diz que a abordagem motivacional pode até funcionar nos casos de níveis de dependência menos graves, mas que vê o Método Fácil de Parar de Fumar com desconfiança:
“Essas coisas alternativas me preocupam porque afastam as pessoas da abordagem médica. Privá-los de um tratamento adequado é uma prática antiética. Quando passam pela abstinência sem assistência e falham, muitos ficam tão traumatizados que não tentam mais parar”.
Métodos alternativos por métodos alternativos, há quem recorra até a simpatias para parar de fumar. Uma das mais famosas indica o seguinte caminho das pedras: no primeiro dia de lua minguante, fume o primeiro cigarro pela manhã normalmente e, na hora de apagar, coloque a ponta dentro de um pote de vidro e tampe.
Repita o ritual durante sete dias e, depois, quando a lua já estiver mudando de fase, jogue o vidro no mar, vire de costas e peça a Deus que leve o vício para longe de uma vez por todas, se Deus quiser antes que o sangue mude de cor…